Home

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Tolkien, Platão e Broas de Milho


Acredito que o que mais gosto na arte em sí é a intertextualidade inevitável, o velho "nada se cria tudo se copia" desde os antigos contos de mitologia grega até a nossa querida novela das 8. É verdade que não se pode fugir de roteiros chave, de arquétipos e estereótipos muito bem conhecidos e similaridades diversas (quem gostar desse tipo de "coincidência" procure por Joseph Campbell, meu ídolo eterno).

Estava lendo Freakonomics e uma pequena passagem me fez lembrar de outros contextos, nessa passagem o autor conta a história de Paul Feldman, que começa uma prática de vender broas em escritórios, o pagamento é feito na base da confiança, a pessoa pega a broa e deposita o dinheiro em uma caixa lacrada, depois Feldman vem e recolhe. Claro que existia uma margem de "passada de perna",e Feldman consegue por meio de dados variados e cálculos montar uma estimativa de situações onde/quando as pessoas eram mais ou menos honestas. Um fator relevante claro, é a possibilidade de ser descoberto.

Aqui o autor faz uma intertextualidade interessante com a obra de Platão, A República. Numa dada passagem, Glauco dialoga com seu mestre Sócrates sobre moral e conta a lenda do Anel de Gyges, resumidamente, esse pastor encontra um anel que tem o poder de torná-lo invisível, e aproveitando-se disso, Gyges comete vários crimes:

"Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegando, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o, e assim se tomou o poder."

Os bons Nerds de plantão já fizeram as ligações com Senhor dos Anéis, o Um Anel, Bilbo, etc.

Semelhanças à parte, Glauco procura mostrar que, se dotado de um poder que não lhe fizesse responder por seus atos, o homem seria capaz de maldades inúmeras, e que portanto é um ser mau por natureza, o que freia seus atos é o medo da repreensão alheia.
Já Tolkien acredita no livre arbítrio e que o Um Anel não é o bastante para controlar uma pessoa de bom coração (Lembrando que Gandalf e Galadriel foram tentados, porem resistiram à influência do Anel.)

Pesquisando mais vi que muita gente se empenhou em fazer essa ligação interessante, quem curte o assunto deveria ler esse artigo do Diego Klautau.

E a questão que fica, se alguém pode cometer um pequeno delito como roubar uma besteira por não ser monitorado, o que faria então se tivesse o Um Anel nas mãos?



Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...